terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A porta aberta, o cobertor e o livro

Toda noite, a porta do quarto ficava trancada. Quando esqueciam de fechá-la, eu não perdia a oportunidade. Entrava. Dormia na beirada. E incomodava meus pobres pais. Tudo era melhor que meu quarto sombrio e os barulhos da noite. A cada cric e crec, meu coração infantil acelerava. Um passo, um ronco alto e um ranger de porta viravam o fantasma sangrento do último filme de terror assistido. E eu lá, deitada, sem abrigo.

Passei a não contar com a porta aberta. Apelei pro cobertor de flanela. Debaixo dele, espiando por uma fresta, me achava menos exposta ao perigo. No inverno não era problema, mas e no verão? Insuportável. Cansei do calor e comecei a ler antes de dormir. O segredo era ler algo muito bom, pra não prestar atenção aos barulhos minúsculos que me deixavam crédula para todas as criaturas fantásticas malignas. Como nem todos os livros são bons, as noites seguiam mal dormidas.

Mas parei de contar com a porta aberta, o cobertor e o livro. Eles vinham de fora e o problema estava dentro. Passei, então, a contar só comigo. Sem subterfúgios pra fugir deles, os espíritos não viram mais graça em me procurar. E a noite ficou vazia de barulhos. E cheia de sonhos.

Coisas-sol


Minha cozinha é meu melhor despertador. Hoje, por ser virada para o leste, ela me recebeu com um sol bem brasileiro, horizontal e ofuscante. É o tipo de coisa bonita que irrita. Mas não serei ingrata. Debaixo da luz, podem ter ido embora minha paciência e as boas idéias, mas fugiu também o sono e os problemas. O sol é soberano, meus olhos estrábicos que o digam.

Assim como ele, a felicidade e a tristeza podem ser egoístas. Quando fortes demais, ofuscam todo o resto e não deixam espaço para outros pensamentos, sentimentos. Talvez, por isso, eu concorde em viver o mediano, nada demais ou de menos. Quero um pouquinho de tudo. Uma tarde ensolarada, uma manhã chuvosa, uma noite estrelada. Até felicidade demais vira monotonia.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A gota d'água

Acho que sei porque sou encantada por fotos macros. Elas revelam um paraíso secreto, escondido no nosso cotidiano cinza. No mundo que DemonMathiel fotografa, uma humilde gota é só do que se precisa.







quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lugar como esse

 É ou não é bom morar na "roça"?

 A "fênix do Cerrado" nos visita aos sábados.
Provavelmente mal intencionada e faminta por outros coleguinhas pássaros, pois os bem-te-vis ficam frenéticos e voam pra longe.

Vista de arco-íris sem prédio na frente.
 Foto pessimamente tirada do fenômeno mais clichê da natureza.

Rastro de avião + lua fodona + minha câmera capenga = Lua-galáxia de hoje.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O Semi-gordo e o ônibus

 
Este ano eu resolvi sair da semi-gordice. Decidi isso andando de ônibus. Cada vez que vou pro trabalho, preciso traçar toda uma estratégia para conviver harmoniosamente com os demais passageiros. Primeiro, evito os assentos com encosto fixo de braço. Proibidos. Porque um quadril largo não é sexy se você precisa sentar na beirada da cadeira. Também não posso ficar no canto. Imagina! Deixar tão pouco espaço pro passageiro azarado ao lado é maldade. Sobra então, para nós, semi-gordos, o banco solitário, de cara pro vidro. Disputado com unhas e dentes, não nos deixa nem socializar.

Pode parecer só um pequeno incômodo, uma pequena humilhação invisível. Mas é diária. 365 pequenas humilhações que podem matar aos pouquinhos o humor (que ainda tenho), os sonhos (ainda muitos) e a auto-estima (ainda uma incógnita flutuante). Então, esse é o ano da saúde. Porque se a saúde em si não é estímulo suficiente para emagrecer, que sejam os ônibus.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quando crescer, quero ser assim

A foto do post de ontem foi feita por uma artista que conheci no Deviantart, Jean Fan. 19 aninhos e  talento até no fio de cabelo, já faz essas fotos lindas, conceituais, sem serem cabeçóides. Ela evita Photoshop e explica passo a passo o que fazer para obter os efeitos que parecem de mentira. Algum dia, vou ser assim (ô se vou).
 







Aqui tem mais.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Primeiro foram as toalhas


Primeiro foram as toalhas. Quatro era o número certo, mas insistíamos em cinco. Depois eu descobri que era constrangedor perguntar pelo pai, pois eu podia ser filha de mãe solteira e detestá-lo ou nem conhecê-lo. Então ninguém perguntava quando dizia "eu vivo com minha mãe e irmãos". Mas eu gosto de insistir, "ele já é falecido". Porque ele existiu, ora bolas. Taí outra coisa que descobri: se é querido, faleceu; se é indiferente, morreu.

Na minha colação, perguntei a uma colega de faculdade onde estava sua mãe. Ela disse que não tinha. Como não? Quem sou eu pra desculpar pais ordinários que fazem com que os filhos prefiram não tê-los mas, o meu, definitivamente, não era e não quero esquecê-lo. E não esqueço. Me disseram que a voz seria o que eu não lembraria primeiro. Mentira. Ouço ele cantando seus boleros direitinho, lembro mais do que lembro do que comi ontem. Falaram que eu diria tudo sobre meu pai no passado, porque ele estaria no passado. Verdade e mentira. Ele est(eve)(á)(ará) em todos os meus tempos.

Porque estamos há 11 anos com quatro toalhas e a sensação de sempre uma faltando.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tudo igual e diferente


Ele chegou chegando, cobrando um “Boa Noite” dos passageiros. Baixinho, caixa cheia de doces nas mãos, ele apresenta um por um enquanto se equilibra no ônibus, incrivelmente vazio às 18h30:

“Esse aqui é o Trident, chicletinho macio pra fazer massagem no seu dentinho. Essa bala é de maracujá. Se tá estressadinho, fica calminho calminho”
Olho os demais passageiros. A maioria esconde o riso inevitável. Achavam que seria a mesma ladainha “eu podia estar matando, roubando”. Não era, mas também era, e até quem não queria doce, acabou querendo. Vender bala no ônibus, afinal, também tem sua arte.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Nada tema, porque Robin Hood não tarda a chegar


Vídeo pra me lembrar que, não muito tempo atrás, eu jogava queimada na rua, fazia ki-suco de guaraná e achava que brincar era uma canseira só.

"A infância vive a realidade da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia" - Agustina Bessa-Luís

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

You got a big ego, such a huge ego

"I'm humbled by his humble nature" 

A internet é palco pra muita gente foda. Ela dá a oportunidade de conhecer o trabalho de quem merecidamente deve ser reconhecido, apreciado e que, de outra forma, poderia ficar no ocaso. Serve também como espaço teste, onde você pode ir evoluindo, brincando, sem maiores pretensões. Este blog é um exemplo.

Como tudo tem um "mas", a aura da mídia tem pego quem acessa um pouquinho demais. O deslumbre costuma atingir todo mundo, mas irrita mais quando é quem ainda pouco tem a oferecer e acha que tem muito. Por isso, acho a imagem acima um respiro no meio de tanto ego. Lição de humildade em seis linhas. 

Lição musical e divertida: Rubinho Jacobina e a Força Bruta - Artista é o K


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