domingo, 16 de janeiro de 2011

Primeiro foram as toalhas


Primeiro foram as toalhas. Quatro era o número certo, mas insistíamos em cinco. Depois eu descobri que era constrangedor perguntar pelo pai, pois eu podia ser filha de mãe solteira e detestá-lo ou nem conhecê-lo. Então ninguém perguntava quando dizia "eu vivo com minha mãe e irmãos". Mas eu gosto de insistir, "ele já é falecido". Porque ele existiu, ora bolas. Taí outra coisa que descobri: se é querido, faleceu; se é indiferente, morreu.

Na minha colação, perguntei a uma colega de faculdade onde estava sua mãe. Ela disse que não tinha. Como não? Quem sou eu pra desculpar pais ordinários que fazem com que os filhos prefiram não tê-los mas, o meu, definitivamente, não era e não quero esquecê-lo. E não esqueço. Me disseram que a voz seria o que eu não lembraria primeiro. Mentira. Ouço ele cantando seus boleros direitinho, lembro mais do que lembro do que comi ontem. Falaram que eu diria tudo sobre meu pai no passado, porque ele estaria no passado. Verdade e mentira. Ele est(eve)(á)(ará) em todos os meus tempos.

Porque estamos há 11 anos com quatro toalhas e a sensação de sempre uma faltando.

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